segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Três chamadas no telefone. Assim que termina de fotografar o abdômen, após intensa sessão de ginástica, ela retorna. É José, seu amigo 30 anos mais velho. Quer dicas sobre como driblar a vigilância da esposa naquela noite véspera de Dia dos Namorados.  Conquistou, segundo ele, nova fêmea, a quem chama de "presa". Seus relatos apontam para uma mulher bonita, jovem, apaixonada e ardente - como sempre. Se é fruto da imaginação ou realidade, vai saber!

Desliga o celular, balança a cabeça, abre discreto sorriso e emenda: "Zé não tem jeito, mesmo!". Apesar de muito mais moça, é a conselheira sentimental dele. Tenta entender a situação. É um homem ainda vigoroso, casado há décadas com uma evangélica autoritária - embora condescendente com a vida boêmia que tenta levar nas poucas horas de folga - e frígida após um transplante de fígado que fragilizou ainda mais sua já debilitada saúde.

Disse, minutos atrás, o de sempre. Uma espécie de receita de bolo; o barzinho mais escondido que se possa encontrar numa cidade do interior dia 11 de junho, o motel sem blitz da Lei Seca nas imediações, e duas pastilhas de Halls preto na boca antes de voltar para o lar. Conhece, de cor e salteado, todos esses artifícios. Nunca correspondeu às cantadas do próprio "Zé", mas é vivida o suficiente para saber como driblar situações de policiamento excessivo.

Já foi casada, teve amores, paixões e uma coleção de homens aos seus pés capaz de causar inveja. Não faz o tipo exuberante, mas tem uma beleza peculiar. A pele muitíssimo clara, cheia de sardas, é o cartão de visitas. Cabelos pretos, lisos e longos também ajudam a compor o visual. Magra, cuida do corpo e frequenta a academia mais badalada do lugar para adicionar músculos ao tipo franzino. Abusa do charme próprio e da sagacidade extrema.

Preocupa-se com "Zé". O protege, como se fosse seu pai, ou seu filho. Os sentimentos se confundem. Fato é que tamanha cumplicidade lhe permite participar das mais variadas situações. E de pequenas confusões e princípios de conflito. Como nas madrugadas que, invariavelmente, tem de confirmar para a família dele a presença em sua companhia. Não foram poucas as vezes que mentiu, que inventou festejos ou compromissos profissionais. 

Nem sempre "Zé" se comportou - como se fosse possível naquela personalidade inquieta e careca. Em um ranking próprio, memorizado com os sete anos de convivência, elege uma passagem. Quando o levou para o pequeno município onde nasceu, no interior de Minas, teve que estipular limites e frear o ímpeto sexual de uma das pessoas que mais ama. "Cara, essa loira de vestido estampado é minha mãe!". Ri sozinha, alto, sempre que lembra disso. Como hoje, ainda suada.