terça-feira, 31 de março de 2020

Falsa mancha de vinho tinto

Uma borboleta pousou no retrovisor
Reservado para o olhar transgressor
Fui lá fora e embalsamei a estrada
Nesses dias sem relógio em disparada

Acabei de perceber você perto de mim
Morena cor de romance vestida de sim
Quando sua sutileza salta e arranha
Nesses dias lentos a vida me estranha

Sei que mereço a façanha do amor
E deixo aberto o livro do frescor
Sou malabarista de concreto e café
Nesses dias em que até o sol deu ré

terça-feira, 24 de março de 2020

Versos vendidos

Começo o dia te deixando sabor da manhã;
Minha xícara com tatuagem de seu batom.
Por baixo da ginga mora dignidade tamanha;
Rima de salto-alto e angústia com moletom.

Continuo meu dia te apreciando me marcar;
Trago cinzeiros, sublimo de tudo um pouco.
Suas pernas de louça embaçam meu olhar;
Traçam-se num descompasso quase rouco.

Termino o dia contemplando seu voo da vez;
E suplicando aos vilões para não ter atalho.
Que não esbarre em reticências ou altivez;
E não sangre a flecha indivisível do trabalho.