quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Insanos somos todos nós

Quem diria! Nosso absurdo mundo em horário nobre.
Entretenimento burguês, indignação de pobre.
Aqui, de riqueza no mar e na terra.
Vergonha nacional que nos enterra.

Quem diria! No lugar onde tem dois carnavais!
É também onde morre gente em canaviais.
Aqui, que tem o verão da família.
Aqui, logo aqui, quem diria, quem diria!

Se tá calor, é praia e trio elétrico!
Ao doente, nem original ou genérico.
Quer casa? Cadastra que tem.
Quer ir de ônibus? Por um real vai e vem.

É na terra da festa e fartura
Que brota nossa desventura.
É na confiança do sempre afável
Que se cai e escorre no chão, miserável.

Abriram a cortina, desnudaram nossa veia.
É gente como a gente, amarrada em teia.
Com a mordaça deles, calaram nossa voz.
Insanos, insanos mesmo, somos todos nós. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

A única incerteza

Pouco ou muito,
Todo mundo já sofreu.
E no auge da dor,
A gente acha até que morreu.

Morremos ou vivemos a cada dia,
Em cada despedida ou reencontro?
Reconstruímos tristeza ou alegria?
Somos só um ou pedaço do outro?

Os filhos são nossa extensão.
Prorrogam a vida ou a morte?
E os pais, afinal, quem são:
Teoria científica ou pura sorte?

Ah, temos amigos e irmãos.
Acaso, prêmios ou dádivas?
Temos felicidade e gratidão;
Fé, certezas e dúvidas?

E nesse emaranhado estamos.
E seguimos nos matando.
Rimos e choramos;
Nos iludindo, nos amando.


sábado, 5 de fevereiro de 2022

Café e convites de casamento

Conheço Eduardo e Mônica.

Trabalho com eles.

São música.

São filme.

Às vezes, opostos.

Quase sempre, um só.

Torcem para um time de três cores.

Entre essas cores, o branco da paz.

O branco do arroz.

O branco de Deus, de João de Deus.

São Fluminense, no singular.

A gente também é, no plural, por nascimento.

E vi nascer esse laço.

Vi quieto, observando um olhar aqui, uma admiração ali, uma comemoração de gol acolá.

Soube, de longe, que esses dois jovens e alegres tricolores uniram sorrisos.

E rir é com eles.

Uma metade extremamente bem-humorada. 

A outra, tão debochada quanto a vida.

É bacana ver um casal onde um foca e o outro posa.

E invertem as posições, como Assis e Washington, o casal 20 inesquecível do Flusão.

Como eles, a tabela é pelo alto, com a cabeça.

Que esses pequenos gigantes macaenses sigam rindo da vida e goleando o que não deveria existir.

Que sejam campeões no xadrez que é a convivência a dois.

A praia é o mundo deles.

Com toda madrugada, com todo sol nascente, com toda dose de pecado.

São fãs de refrigerante, cerveja, boa comida e viagens.

Desejo, daqui, café.

Por ser energia e vigor.

E convites de casamento.

Por ter a juvenil essência de quando fizeram - e compartilharam - o deles.

Ah, sim, voltando lá no início do texto, e, talvez, de tudo: "quem um dia irá dizer que não existe razão pras coisas feitas pelo coração?".