segunda-feira, 27 de abril de 2020

Bem

Acorde, intuição
Afine concepção
Emane construção
Irradie harmonização

Revire, imaginação
Saboreie inspiração
Propague reflexão
Partilhe interação

Venere, coração
Armazene disposição
Pulse compreensão
Transborde violão

terça-feira, 21 de abril de 2020

Ato infracional número cinco

Da utopia encastelada e faz-de-conta
Não permita a bíblia de certezas orar
Rasgue viseira cega com mofo na ponta
Descarte pulhas, deixe a lucidez festejar

Já que liberdade não deve ter receita
De pequenas alegrias prefira o cansaço
A palavra pouco dita nossa boca enfeita
E que não nos suba à cabeça o mormaço

Se o relógio marca: atrasados para morrer
Uns dias só atravessam, outros extravasam
Algeme regras e leis tolas, favor não ler
Enquanto uns dias defasam, outros embrasam

terça-feira, 14 de abril de 2020

Diário de bordo

Era uma segunda à tarde quando decidi
Me pautar a tarefa diária de produzir.
Fazer fotos e escrever durante a quarentena,
Numa rotina tanto obrigatória quanto serena.

Regra básica: todo o conteúdo seria inédito,
Feito somente de dentro de casa, de propósito.
Durante seis dias mostraria só as imagens;
Uma vez por semana, versos nas postagens.

Lá estão os filhos, pôr do sol, placa, bonecos,
Bruxa, automóveis e terço, mas sem repetecos.
Revelei saudade do meu time e pedi paciência;
Agora é seguir com esperança e fé na ciência.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Última gota de suor

Na faculdade que me ensina a ser eu
Tem só garoa, fogueira e cansaço teu
Nessa cena dourada, temporal e inversa
A crença cega e a memória é perversa

Parece carta de amor sem destinatário
Com o perfume de fada do mostruário
Carrego até a interrogação da perda
E ainda tento gol de perna esquerda

No silêncio das palavras invisíveis
Repousam nostalgias quase audíveis
Se você for a noite, não quero acordar
E se o dia amanhecer, vem me bronzear