sábado, 23 de dezembro de 2023

Sugestões

Não vou molhar meus pés
Nem na chuva, nem no sol
Ouço e mudo os decibéis
A dúvida guia meu anzol

Se não me vestir agora
Você sabe a gota que é
Mas se tua mão demora
Cruzo o dia, engato a fé

E se um guardanapo voar
Não serei eu a desmentir
Ele vai chegar e te avisar
Que eu já vou me consentir

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Fluminense: a pátria de chuteiras

Estou torcendo muito pelo Fluminense
Como se fosse meu combalido Botafogo
É nossa chance de país, meio nonsense
E de nos apresentar de novo, pro jogo

A esperança recente do Brasil é o Flu
Com a tática do futebol arte do Diniz
A troca de passes na defesa que deixa todo mundo nu
Mas da nudez a gente veio pra ser feliz

Guardiola era muito fã da Seleção de 82
Tá na hora do verde ser verde e do amarelo ser grená
Vamos ganhar, não vamos deixar pra depois
É a nossa gente, é o Rio, é o Brasil que tá lá

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Adivinha

Sou o mar; e você, oceano;
Vou fotografar seu plano.
Te cortejar no azul da noite,
Aprisionar o nosso açoite. 

Somos o gelo quebrado,
A blusa do descamisado.
Se eu não aguentar mais,
Acordo em sonhos reais.

Devia te beijar meu mundo;
Ou não, ou ser nada e tudo.
Adivinha quem vai mudar?
A gota de saudade no ar.

Transtorno

O tanto do gostar define:
Matemático ou impreciso.
Aeroporto, rua, um cisne;
Nuca, pelo, olfato indeciso. 

Querer cuidar dói muito,
É pensamento acelerado.
Antes até do que sinto;
É estar logo ali, ao lado.

Saí do zero e só dou um oi;
Você está bem aí, aleatória!
Não te vejo, se você se foi;
E não grito o gol ou vitória.

 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Pacote Prime

O trompete faz um ruído;
É diferente, quase destruído.
Arranha.
Entranha! 

E a gente fica mudo;
Eu e você, um absurdo!
É barganha.
Ou varanda.

A gente sabe se ler?
A gente sabe se ver?
A gente sabe,
A gente nave.

E se ficar mordida?
E se for bandida?
A mancha fica,
Não finca?

É dente e lábio,
Sedento e sábio.
Não troca o braço,
Dou outro abraço. 

A gente é café
Com cafuné.
Um vinho,
Novinho.

Aceita carinho, vai...
Não dói, não cai.
Eu sou você e ponto,
Final que não conto!


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Molhado na cerveja

Eu acho que fiz um samba
De alegria e de tristeza
Com aquele jeito de bamba
Molhado na cerveja da esperteza

Não tem hora pro pandeiro
E nem alegria pra desespero
Se for esperto sou quem ama
Se não me segurar, sou o samba

Não tem malandro e nem hora
Vou chegar aí e vai ser agora
Ando pra frente e devagar
Tá lá a areia e a beira do mar

Não tem hora pro pandeiro
E nem alegria pra desespero
Se eu for esperto sou quem ama
Se não me segurar, sou o samba

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Atemporal

Nessa fotografia que você faz de mim com o olhar
Parece que o vinho e o pôr do sol vão chegar
E não haverá mais tempo sobrando agora
Pra eu me sentir além de mim sem hora

A gente fez trinta anos em um mês
E faz aniversário todo dia, toda vez
Se a liberdade nos prende
Nosso corpo, meu e seu, é nômade

Te procuro nas prateleiras de supermercado
E me acho num arrecife em ti mergulhado
É como amanhecer e ir varrer o quintal
Ou misturar amizade e amor atemporal

Você me ensinou a erguer taças ao vento
E que as frases têm seu próprio encanto
Como a cama que a moça alegre levou
E deixou tanto espaço que transbordou

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Amanhã é hoje e ontem / Tomorrow is today and yesterday

Meia noite e você não está 
(Midnight and you're not there)
E nem vou até aí
(And I'm not even going there)
É como não ver o mar
(It's like not seeing the sea)
E ter as montanhas na mão 
(And have the mountains in your hand)

Não vou te mandar mensagem
(I won't send you a message)
Nem por hoje e nem por sempre
(Not for today and not for always)
Embora tudo pareça obscuro
(Although everything seems dark)
Eu ainda estou bem aqui
(I'm still right here)

Você nasce a cada gota de chuva
(You are born with every drop of rain)
E vai embora com o nascer do sol
(And leaves with the sunrise)
Seguro meu cabelo e meu sorriso
(I hold my hair and my smile)
Amanhã é hoje e ontem
(Tomorrow is today and yesterday)

Não adianta ser sexy
(There's no point in being sexy)
Ou ter artimanhas
(Or have tricks)
Se a carta de amor
(If the love letter)
Ainda não foi entregue
(Not delivered yet)

Você nasce a cada gota de chuva
(You are born with every drop of rain)
E vai embora com o nascer do sol
(And leaves with the sunrise)
Seguro meu cabelo e meu sorriso
(I hold my hair and my smile)
Amanhã é hoje e ontem
(Tomorrow is today and yesterday)

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O peito cansa / The chest gets tired

Ouvi nossa música hoje
(I heard our song today)
E foram muitas vezes
(And they were many times)
Mas você não está aqui 
(But you're not here)
Mesmo parecendo perto 
(Even though it seems close) 

Eu até acho que vi você
(I even think I saw you)
Na hora que olhei o mar
(When I looked at the sea)
E era algo bem parecido 
(And it was something very similar)
Um sorriso largo e feliz
(A wide, happy smile)

Você está muito cansada 
(You are very tired)
Eu bebi uns bons drinks
(I had some good drinks)
A noite vai nos encobrir
(The night will cover us)
Amanhã é só um belo dia
(Tomorrow is just a beautiful day)


Nossa música ficou lenta
(Our music got slow)
E não consegui sair dela
(And I couldn't get out of it)
E você não está bem aqui
(And you're not right here)
Vou fazer carinho virtual 
(I'm going to do virtual affection)


Ouvi nossa música hoje
(I heard our song today)
E foram muitas vezes
(And they were many times)
Mas você não está aqui 
(But you're not here)
Mesmo parecendo perto
(Even though it seems close)

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Uma multidão na ponta dos dedos / A crowd at your fingertips

Tem um sax aqui, me atazanando. 
(There's a sax here, bothering me.)
E a voz rouca permeia.
(And the hoarse voice permeates.)
Ela diz sim, gritando não.
(She says yes, shouting no.)
Há guitarras e baixo.
(There are guitars and bass.)
Plateia açucarada.
(Sugary audience.)

Eu não vou ser hoje, não.
(I won't be today, no.)
Tem gritos aqui, gemidos ali.
(There are screams here, moans there.)
Uma multidão na ponta dos dedos.
(A crowd at your fingertips.)
Um versículo que diz amém.
(A verse that says amen.)

Ah, e um samba aqui, meu bem?
(Oh, and a samba here, my dear?)
Suor, tamborim e a gente só.
(Sweat, tambourine and just us.)
E a luz.
(It's the light.)

Tinha um samba meu aqui.
(There was a samba of mine here.)
Com suor e tamborim,
(With sweat and tambourine,)
quase fiz.
(I almost did it.)

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Performance

Eu não sei falar inglês,
Mas escuto sua voz!
Do beijo serei freguês,
Nem manso ou feroz!

Eu não sou nem burguês,
Mas consigo ler os nós!
Do seu perfume francês,
Projeto vítima ou algoz!

Eu não sei tocar teclado,
Mas há bandeiras azuis!
Não viver é um pecado,
Troquei os óculos, feliz!

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Nas redes urbanas

Será que nós vamos estar por aí?
Num dia qualquer, samba de ir e vir...
Lapa, Domingos Martins ou Recife?
Quem não quer nada, sem cacife...

Será que nós vamos virar livro?
Aquele, da biblioteca imaginária...
Ou é boteco, cerveja e aperitivo?
Tempo, poltrona e luminária...

Será que nós vamos subir escadas?
Degrau por degrau, terceiro andar...
Não olhar alarme nas madrugadas?
E não ver o sol nem a lua inundar...

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Alcântara de Meireles

Zé, como a gente fica?
A bola rola, não quica.
Zé, e o "Ururau Irado"?
Cumpre o dever calado.

Zé, agora é outro papo?
A cerveja é guardanapo.
Zé, e essa vida nobre?
Valeu, a gente descobre.

Zé, a barra pesou. Né?
A rotina, talvez, deu ré.
Zé, e sua falta como é?
Oração elegante da não fé. 

Boatos

Espalhe por aí que virei ar
Passo respirando e sem tropeçar
Pra eu chegar até você com fôlego
E ouvir que é preciso chamego

Espalhe por aí que virei sol
Passo esquentando, luz feito farol,
Pra eu chegar até você e te bronzear
E ouvir que é preciso clarear

Espalhe por aí que virei água
Passo escorrendo por cimento e tábua
Pra eu chegar até você e te refrescar
E ouvir que é preciso amar

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Transcendência

Não sei se até uma revista literária
Ia estampar toda essa nossa alegria
Talvez fosse um anúncio de rodapé
Teclando o samba da praça de ré

Impacta a impressão da sua imagem
Se eu não me vestisse de coragem
Pode ser prosa em cada sentimento
E uma brisa pra soprar o momento 

Vou publicar em PDF esse acalento
Olhar, respirar e acelerar, bem lento
Contemplar à vista silêncio e roupa
Registrar que toda a paixão é pouca

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

À prova

Esse descompasso geométrico
Pode ser matemático
Quando o plural de física
É sinônimo de química

Nem parece uma história
Tá mais pra qualquer teoria
De prática não muito nova
Da alquimia que não reprova

Num boteco palco da filosofia
O tapete da sociologia
Brinca com a exatidão da álgebra
E exala o charme da literatura

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Vinte e nove vezes

Ah, não é só momento!
É o registro do tempo,
Daquele que não volta.
Daquele, da reviravolta! 

Se estou sorrindo, eu sei;
Se é por mim, eu tentei!
Mas pode ser sol, à toa;
E pode ser chuva, garoa!

Vale é o nosso brinde;
Vale o que decide.
E eu decido viver...
Vida, gente, é acontecer.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Rico

Quero andar de ônibus com você,
E comer pipoca salgada na praça.
Vou calçar as sandálias do querer,
Degustar a vida com colher de sopa.

Sabe bombril na antena da TV?
E o calço de madeira na poltrona?
Então... é tipo um miojo com prazer.
É ser feliz a pé, dormindo  na lona.

Nem ligo se o consignado estourar,
Se a conta de água atrasar,
E se o aluguel me despejar.
Sou milionário no brilho do seu olhar!


domingo, 20 de agosto de 2023

Palco oficial

Eu cheguei, mas tive um medo
O frio na barriga, a insegurança
Era só diversão, e era bem cedo
Aí o medo virou uma esperança 

Vou jogar emoção num tapete
Se teve um beijo, me acalmou
Se teve calmaria, ah, me repete
Acho que alguém me chamou 

Eu só fui, fui e fui me beliscando
A vida é só uma grande emoção
Hiato pra ver a gente se amando
Uma vírgula rasgando o coração

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Tridimensional

Sou try. Veja: é com ípsilon mesmo.
Tássio, Renan e Yan, eu não à esmo.
Estamos aí na foto de Dia dos Pais;
E dizendo muito: a gente quer mais!

A gente quer muito de nossa poesia.
A gente quer é muito mais fotografia.
A gente quer, ô, muito mais desenho;
E a gente quer muito mais empenho!

Batalha por um novo, novo mundo.
E não é um singelo desejo absurdo.
Olhem pra nós e pra lupa de vocês;
A gente se vê, a conexão vira doces!

Uma saga aqui é uma luta logo ali.
Um sorriso seu, um só toque e eu vi.
Na história, ri pela nossa inocência;
A vida é vivida: sinônimo de paciência!

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Na chon

Ah, Aracy...li sobre você.
A biografia crava o que?
O título "Nunca fui santa"
É poesia pura e me encanta.

Fui à Armênia e até voltei,
Num "Sai de baixo " só meu.
Tua assinatura é o teatro;
Teu nome é rio, agora hiato.

Pra gente fica o riso fácil;
E a mulher robusta, a tátil.
Cortinas mudas te saúdam;
Gente, por favor,  aplaudam!

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Pequeno atalho para o nada

Diga-me sobre sua você:
Degusta um descartável prazer?
Ou vê tijolos em construção?
Talvez esteja estrofe em evolução. 

Mas diga, diga sobre viver:
É sol nascente ao anoitecer?
Ou um pequeno atalho para o nada?
Vejo chuveiro, deduzo estrada.

Agora conte sobre crescer:
É poltrona de espinhos, posso crer?
Uma garrafa que transborda absurdo?
Acho que é concreto e espelho mudo.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Eu sei

Mal sabe você de hoje!
Vou te contar, viu!
Não tem aquela laje?
É o concreto do Brasil.

Mal sabe você de ontem!
Tia Dilma gaguejou.
E antes que aprontem,
O nosso futuro calejou.

Mal sabe você, espelho:
Teve gente que votou.
E a onda de vermelho,
Quase no fim, goleou. 

terça-feira, 11 de julho de 2023

Palavras rio afora

Um sorriso que se foi
Um olhar me abandonou
Se te encontrar, é um oi
Se teu sorriso findou

Laiá, laiá, meu coração
Traidor sem noção
Uma vida com você e eu
Fiquei na sua boca, seu

Não disfarça e volta
O que é reviravolta
É só o meu lugar
Pra você me olhar

terça-feira, 4 de julho de 2023

Toque de mágica

A paz tem cor de lã;
Vem na brisa, de manhã.
O perfume da primavera;
Você e a lua, quem dera!

Se não tiver paz amanhã;
Da brisa não serei fã.
Sem seu perfume,  já era;
Você sem mim, espera!

A paz só retorna guardiã;
E a brisa percebe, pagã.
Aí seu perfume esmera;
Eu, você e a lua: quimera!

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Sombreiro

Amor é raquete
É tênis e basquete
Amortece
Anoitece

Amor aquece
Não esquece
Tempera
Reverbera

Amor é Azeite
É deleite
É piston
É on

Amor sopra e arde
Nunca é tarde
É extintor
É ardor

Amor é ferro de passar
É golear
É dor
É até amor

Amor é sax e serrote
É um norte
É boliche e rádio
É estádio 

Amor é relógio e violão
É pousar sim e não
É antiquário
É armário 

Amor é dedo ao infinito
É feio e bonito
É luz que reluz
É força, conduz

Amor é cerveja
É alguém que me veja
Me enxerga
E me cega

Amor clama
E chama
E cama
Amor me ama

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Sol entre os trilhos

Mar de gente sem água;
Movimento de formiga.
Homem do escuro, buá;
Um filme que me intriga. 

E por falar nos cinemas;
A gente não viu, nem vê.
Me vi ao avesso, apenas;
Sol nos trilhos, você crê?

Creio nas festas juninas;
E indo sempre pra casa.
Quadrilhas são meninas;
Têm alma, fé, chão e asa.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

A outra

Fui idealizadora do amor, amante do pecado;
Moradora única de um prédio cinza desbotado.
Fiel, sempre fiel, à minha límpida solidão;
A motorista desgovernada do trem sem vagão.

Tomei litros de água, ao invés de cachaça;
Tenho um viço moribundo dentro da carcaça.
Corri léguas, estradas inteiras, e não caí;
Hoje é o que ontem não foi e amanhã não vi.

Não deixei um testamento nobre documentado;
Nem folhas em branco de um papel maltratado.
Se sorri aos remédios, foi a sua impressão;
Dei tchau às agulhas tolas por pura imersão.

Hemisfério

Que vento sul sou eu?
Que alvoroça folhagem?
Que atravessa o breu?
Que parece miragem?

Que proteção é você?
Que tipo de agasalho?
Que coberta de prazer?
Que tapete no assoalho?

Que temperatura temos?
Que tem no inverno só?
Que no verão queimemos?
Que o termômetro dá nó?

terça-feira, 13 de junho de 2023

Nem vento, nem tempestade

É uma canção de verão, um anjo;
Um clarear que não vejo.
Se você for sapato velho,
Sou a viagem, um elo.

É ser bem simples como a roupa nova;
Ter nos bailes da vida uma escola.
Ah, Maria Maria, meu universo é você.
Chama pra começo, meio e fim, pode ser?

Só minha felicidade não dá, não dá...
Os corações não são iguais cá ou lá.
Uma alma brasileira volta pra mim...
No sonho, nos corações psicodélicos, enfim...

Amar é chuva de prata?
É de volta pro futuro numa lata?
É vício, é Lumiar, é sensual?
E é tímida, é um voo livre casual?

À flor da pele vive uma lenda,
Que tem a força do amor na legenda.
E vamos seguindo o trem azul,
Com a estrela linda demais ao sul.

A paz é dona de um coração pirata;
É um show de rock´n roll que arrebata.
É até whisky à go-go na vitrola.
Tô aqui, moça da cantiga. Desenrola! 

terça-feira, 23 de maio de 2023

Giz verde

Hoje quero ser criança.
O que você me diz?
Sem medo, nem esperança;
Só quero saber do que fiz.

Meu cabelo, o vento balança;
Mas eu digo: "não, não, não".
Conhece desconfiança?
Traga afeto em sua mão.

Eu sou você a sós, agora.
Se consigo te decifrar;
Sou hoje, mundo afora.
Embarco, vem nos navegar?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Sassaricando

A porta, já aberta, assistiu Moisés entrar.

Ele foi partido ao meio quando mirou a TV que fica perto da porta. Na tela, uma imagem em preto-e-branco de Rita Lee.

- Ela morreu? Vou chorar.

Moisés foi dividido ao meio por um mar de emoções.

Não vi, mas deduzo que lacrimejou.

Elis Regina adentrou pela mesma porta que Moisés, a essa altura já resiliente.

A xará da cantora que tirou a cantora da cadeia também se espantou.

- Rita Lee morreu?

A concordância veio no movimento para baixo da cabeça de dois ou três colegas de trabalho. Um movimento encadeado.

Lua, a personificação capilar Lee, não tinha o mesmo brilho nas madeixas rosa-choque.

Joice, outra homônima de cantora, estava de preto. Coincidência ou não, não dá pra cravar.

Ofegante, Thamires, nossa líder sereníssima, e, curiosamente, também de preto, teve o ar roubado por uma sinusite insistente. Um bafejo de quem não é ovelha negra. Muito pelo contrário. Na sua ausência física, é uníssono o coro: "agora só falta você".

A tarde chegou tarde. Com informações sobre vacina, carros acelerados, questionamentos educacionais, preparação de defensores civis e quetais.

Uma miscelânea. É nosso dia-a-dia pouco convencional aos normais. Uma espécie de lança-perfume atirado ao vento e mutante.

A gente trabalhou. E eu ouvi e vi Rita Lee no YouTube. Em último volume. Só silenciado quando ouvi, do meu lado, a polida e elegante colega Juliana cantarolando Rita Lee.

Bwana, Bwana, não sei cozinhar. E também não vejo uma mulher-robô. Foi uma cena tuti-fruti. Uma liberdade de expressão que só tem quem é Lee na excelência.

Parei pra tomar uma cerveja por Rita. Já estou, em plena terça, na quarta. Sonhando que ela tenha sete. Sete vidas. E, em todas as reencarnações, mulher!

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Se tentando

Precisei recorrer aos novos óculos para enxergar Lulu, aos 70.
Óculos são uma espécie de retrovisores... do que a gente já foi.
Pelo menos é o que vejo. Ou melhor, tento. E você também tenta.
Já vivi, mas quero escrever um texto sobre ele. E a gente, oi?

Ah, tô numa viagem aleatória aqui, de tentar misturar as coisas.
Uma crônica vadia, num dia vadio, numa noite sem qualquer placar.
Deu empate, dois empates. E a gente empatou, somos feito brisas.
Vou aqui enfileirar umas rimas, uma coisa de quem quer emplacar.

Não é apenas mais uma de amor
Em tempos modernos
Talvez seja toda forma de amor
Como o último romântico

De repente, Califórnia
Ou deixa isso pra lá
Se é seu aniversário
Um pro outro, já

Quando um certo alguém
Como uma onda
Tem a cura como ninguém
Certas coisas a gente sonda

Adivinha o quê, sereia?
Você me faz tão bem, tudo bem?
E a nossa casa, incendeia?
Assim caminha a humanidade, vem?

Estão aí, dezoito títulos de músicas em forma de poesia.
É uma crônica explícita? É. Mas também talvez não seria.
Não vi Lulu no Vímana, com Ritchie e Lobão e companhia.
Só soube. Ele era vocal e guitarra, mas podia ser bateria.

Vi Lulu Santos cabeludo, no Cassino do Chacrinha.
Lembro dele de camiseta e bermuda jeans, arrasando.
Ele cuidou bem da Scarlet Moon, e criou sua cria.
Lulu se assumiu Lulu, sempre corajoso e mitando.

É só um viva pra ti mesmo.
Nessa nossa vida a esmo.
A gente precisa viver.
E acender. E ascender.  

domingo, 30 de abril de 2023

Desejo proibido

Acho que sua vida é boa
Então não vou dizer
Que você ecoa
Mesmo sem querer 

Teu sorriso reluz
Teu corpo inflama
Mas a gente reduz
Porque você não chama

É só admiração? É
Fica subentendido
O que a gente quer
Um desejo proibido

Isso é quase um samba
Do alto de seu tamanco
Eu sou quase um bamba
Sem voz e de branco 

Fica só do meu lado
Não precisa nem falar
Eu tô aqui,  calado
Sonhando em te amar

Camim

Eu não sei o que está acontecendo
Talvez a bola branca na caçapa
Ou eu ainda sou você amanhecendo
Ouvindo acordes, pará, pápá

Tem quem ama, tem quem vai amar
É uma noite com gosto de chocolate
Você usa brinco de folhas e de mar
Eu uso uma blusa verde abacate 

Se eu for dizer,  não digo nunca
Se eu for falar,  por você tudo bem
Os teus passos me tatuam a nuca
Mas eu não fui e você não vem

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Cinco sentidos

Eu sou viciado em você.
Te ouço, até desgostosa.
Vejo sua risada. Por quê?
Te respeito, até ansiosa.

Eu sou carinho em você.
Te leio, até silenciosa.
Ouço o seu sono, o que?
Te desejo, até venenosa.

Eu sou o ninho em você.
Te apalpo, maravilhosa.
Sinto perfume de prazer?
Te degusto, luminosa. 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Tinder

Diz aí: qual é seu nome?
Conta: tem quantos anos?
Onde mora, e o que come?
Quais são os seus planos?

Fica ou só quer namorar?
Prefere cerveja ou vinho?
Morar junto ou quer casar?
Sair em grupo ou sozinho?

Está nessa há muito tempo?
Espera ter aqui uma emoção?
Filhos, tem? E seu trampo?
Me encaixo na sua solidão?

terça-feira, 4 de abril de 2023

A fome do universo

Se a saudade for me procurar,
Vou estar onde a história nos deixou.
É bondade minha me amar,
Se não ferir o lastro que ficou. 

Quando a gente não se dedilhou,
Música soprada fez desafinar.
O relatório do tempo desandou,
A chuva estancou até o sol raiar.

Posso ter a fome do universo,
E não querer me alimentar.
Posso ter você aqui bem perto,
E não querer me encontrar.


Livro aberto

De três segredos a gente entende;
Dia pra viver, uma noite de matar.
Pode ser copo ou corpo, depende;
Se o sonho é realidade, a luz tem ar.

Uma placa decalca todo o amor;
Parece sentido, nossa existência.
Encarcerada na madeira, uma flor;
Se é chocolate, gosto de carência. 

Hoje recorto uma palavra quieta;
Te chamo em capela, até choro.
No retrovisor, a nuvem inquieta;
Se a coragem chegar, te devoro.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Calendário

Tô achando que hoje é segunda
A tarde é inútil, quase vagabunda
Tô achando que hoje é terça
E espero não ver quem me conheça 

Tô achando que hoje é quarta
Noite daquele futebol que me mata
Tô achando que hoje é quinta
Meio termo, até que alguém minta

Tô achando que hoje é sexta
Até na chuva, tem quem se ajeita
Tô achando que hoje é sábado
E a gente não fica lado a lado

Tô achando que hoje é domingo
Futebol de novo e um cochilo amigo
Tô achando que ainda é domingo
Não estou com você, nem comigo

Tô achando que hoje é todo dia
Eu ia te escrever; eu até ia aí, eu ia
Mas se hoje for mesmo todo dia
Na sombra é sol e amor é ventania

sexta-feira, 24 de março de 2023

Arquitetura

Decoro nossos dias com fervor e amor;
E com temperos de amizade e frescor.
A gente pode até ouvir e fumar um reggae;
E posso te seguir, desde que você me cegue.

Vender um sanduíche na praia é natural;
Se tiver nome de banda, é homenagem surreal.
Mas você tem terra, tijolos e cimento;
Enquanto eu, aqui, vou confeitando o momento.

Tem uma concha bem ali no teto, eu vi.
O seu olhar descalibrado eu, só, li e reli.
Esquece paredes e o teto e a multidão, meu bem.
Vem só desenhar um dia e uma noite, vem.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Pano de gente

Minhas bonecas sentem
Olham, mas não mentem
Tem alma de gente ali
Vestem sentimento, sim

Minhas bonecas pensam
Questionam e interrogam
Duvidam da própria vida
Mas não vivem da dúvida

Minhas bonecas sonham
Loucas, se embrenham
Sóbrias, se estranham
Em meus dedos, amam

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Que venham os trovões

 José Gilson não tinha redes sociais virtuais. 

Porque ainda não existiam? Sim.

Mas, mesmo que houvessem como hoje, não seriam constrangimento.

Com ele a conversa era "olho no olho". 

E enxergava longe.

A ponto de confiar a mim a saída e, principalmente o retorno, de João Paulo Arruda ao lar que cuidava com firmeza e leveza se entrelaçando pela curta escada que unia os dois pavimentos.

Ele sabia, sábio, ligar os pontos. Arquitetou, quase silencioso e admiravelmente genial, um castelo afetivo pautado no infinito. 

Da escadaria de uma vida intensa e emotiva vem João Paulo Arruda.

José Gilson desce esses degraus juntinho, dentro e fora dele.

Vou encontrar os dois numa noite eterna. Que venham todos os trovões a nos desafiar!

OBS - pequena crônica sobre o lançamento do livro de João Paulo Arruda, em Campos, no dia 09 de fevereiro de 2023: "José Gilson contra o trovão". 


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Procura-me

Procura-me
No sinal vermelho
Na fissura do espelho
Na frase não escrita
Na palavra maldita

Procura-me
Na luz da rua
Na puta nua
No pneu furado
No terno rasgado

Procura-me
No doce azedo
No amargo do credo
Na língua afiada
Na triste risada

Procura-me
No limbo da cama
No sexo sem chama
Na pele que inflama
Na mulher que te ama

Procura-me