segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O encontro

Paciente chega com profundo corte no supercílio esquerdo. Muito sangue logo estancado. Limpeza com fibrase e aplicação de povidine resolvem o problema. Pouco depois é um diabético com furúnculo no dedão do pé direito. Procedimento semelhante, com os cuidados peculiares para quem sofre com disfunção da glicose. Olha o relógio e vê que não vai dar tempo de chegar logo. A prioridade são os atendimentos de emergência.

Saque do levantador. Com efeito. Erro na recepção, bola junto à rede e o atacante não supera o bloqueio duplo. Faltam dois pontos para o time da casa fechar o primeiro set. É o que acontece quatro bolas depois. Rápido gole no energético, ouvidos atentos às ordens do rigoroso treinador e já está de volta para comandar a equipe contra o líder da Superliga Nacional. Observa a arquibancada e não encontra quem esperava.

Um auxiliar de enfermagem faltou ao serviço. Mandou dizer, por telefone, que o filho adoeceu de novo. Justo o sujeito cheio de bossa e repleto de desculpas, o mais competente. Na falta do profissional de confiança, tem que trabalhar com aquela gorda baixinha de quem antipatiza. É porque precisa sempre repetir as instruções para curativos e sabe que o resultado final não vai ficar à seu feitio. O mau humor é evidenciado na respiração.

Põe a mão para trás e indica o número da jogada exaustivamente ensaiada. Uma violenta paralela, com o ponta fazendo "corta-luz". Na terceira tentativa dá certo. Bola no chão, vibração e abraços. Outra "passada-de-olho" no meio da torcida, no lugarzinho costumeiro. Pensa que ela não conseguiu chegar por algum imprevisto. Tinham combinado tudo certinho. Já era tradição nos jogos de noites de quintas-feiras.

Dessa vez a ambulância vem com um idoso. Suspeita de enfarte. Rumo à sala de reanimação, trinca os dentes e se desespera emocionalmente. Diagnostica, algum tempo depois, a possibilidade de inflamação no pericárdio, a membrana que envolve o coração. Informa ao acompanhante, um filho de aproximadamente quarenta e dois anos, a suspeita de pericardite. Apesar da gravidade da situação, a perspectiva de recuperação é plausível.

O último set já está na metade. Tie-break. Tirado repentinamente, vai para o banco. Não presta muita atenção na movimentação em quadra. Quer o toque feminino, o afago, os carinhos... Volta à equipe. Faz um ponto e defende outro. Encharcado de suor, vibra intensamente. Retoma o estado normal e, por tabela lógica, a concentração. Empurra os companheiros à vitória dramática, apertada!


A médica, enfim, pisa no ginásio. Já encontra o marido saindo de fininho. Comentam o resultado, os lances, o que poderia ter acontecido se houvesse derrota... Vão jantar antes de ir para casa. O jogador, na porta do vestiário, dá de cara com a namorada, uma atleta do juvenil, de 19 anos, e a afaga. Partem de carro e param no mesmo restaurante do outro casal. Se reconhecem, mas não trocam palavras. Nenhum sinal. Os quatro apenas sorriem, intimamente.