A porta, já aberta, assistiu Moisés entrar.
Ele foi partido ao meio quando mirou a TV que fica perto da porta. Na tela, uma imagem em preto-e-branco de Rita Lee.
- Ela morreu? Vou chorar.
Moisés foi dividido ao meio por um mar de emoções.
Não vi, mas deduzo que lacrimejou.
Elis Regina adentrou pela mesma porta que Moisés, a essa altura já resiliente.
A xará da cantora que tirou a cantora da cadeia também se espantou.
- Rita Lee morreu?
A concordância veio no movimento para baixo da cabeça de dois ou três colegas de trabalho. Um movimento encadeado.
Lua, a personificação capilar Lee, não tinha o mesmo brilho nas madeixas rosa-choque.
Joice, outra homônima de cantora, estava de preto. Coincidência ou não, não dá pra cravar.
Ofegante, Thamires, nossa líder sereníssima, e, curiosamente, também de preto, teve o ar roubado por uma sinusite insistente. Um bafejo de quem não é ovelha negra. Muito pelo contrário. Na sua ausência física, é uníssono o coro: "agora só falta você".
A tarde chegou tarde. Com informações sobre vacina, carros acelerados, questionamentos educacionais, preparação de defensores civis e quetais.
Uma miscelânea. É nosso dia-a-dia pouco convencional aos normais. Uma espécie de lança-perfume atirado ao vento e mutante.
A gente trabalhou. E eu ouvi e vi Rita Lee no YouTube. Em último volume. Só silenciado quando ouvi, do meu lado, a polida e elegante colega Juliana cantarolando Rita Lee.
Bwana, Bwana, não sei cozinhar. E também não vejo uma mulher-robô. Foi uma cena tuti-fruti. Uma liberdade de expressão que só tem quem é Lee na excelência.
Parei pra tomar uma cerveja por Rita. Já estou, em plena terça, na quarta. Sonhando que ela tenha sete. Sete vidas. E, em todas as reencarnações, mulher!