terça-feira, 23 de maio de 2023

Giz verde

Hoje quero ser criança.
O que você me diz?
Sem medo, nem esperança;
Só quero saber do que fiz.

Meu cabelo, o vento balança;
Mas eu digo: "não, não, não".
Conhece desconfiança?
Traga afeto em sua mão.

Eu sou você a sós, agora.
Se consigo te decifrar;
Sou hoje, mundo afora.
Embarco, vem nos navegar?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Sassaricando

A porta, já aberta, assistiu Moisés entrar.

Ele foi partido ao meio quando mirou a TV que fica perto da porta. Na tela, uma imagem em preto-e-branco de Rita Lee.

- Ela morreu? Vou chorar.

Moisés foi dividido ao meio por um mar de emoções.

Não vi, mas deduzo que lacrimejou.

Elis Regina adentrou pela mesma porta que Moisés, a essa altura já resiliente.

A xará da cantora que tirou a cantora da cadeia também se espantou.

- Rita Lee morreu?

A concordância veio no movimento para baixo da cabeça de dois ou três colegas de trabalho. Um movimento encadeado.

Lua, a personificação capilar Lee, não tinha o mesmo brilho nas madeixas rosa-choque.

Joice, outra homônima de cantora, estava de preto. Coincidência ou não, não dá pra cravar.

Ofegante, Thamires, nossa líder sereníssima, e, curiosamente, também de preto, teve o ar roubado por uma sinusite insistente. Um bafejo de quem não é ovelha negra. Muito pelo contrário. Na sua ausência física, é uníssono o coro: "agora só falta você".

A tarde chegou tarde. Com informações sobre vacina, carros acelerados, questionamentos educacionais, preparação de defensores civis e quetais.

Uma miscelânea. É nosso dia-a-dia pouco convencional aos normais. Uma espécie de lança-perfume atirado ao vento e mutante.

A gente trabalhou. E eu ouvi e vi Rita Lee no YouTube. Em último volume. Só silenciado quando ouvi, do meu lado, a polida e elegante colega Juliana cantarolando Rita Lee.

Bwana, Bwana, não sei cozinhar. E também não vejo uma mulher-robô. Foi uma cena tuti-fruti. Uma liberdade de expressão que só tem quem é Lee na excelência.

Parei pra tomar uma cerveja por Rita. Já estou, em plena terça, na quarta. Sonhando que ela tenha sete. Sete vidas. E, em todas as reencarnações, mulher!

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Se tentando

Precisei recorrer aos novos óculos para enxergar Lulu, aos 70.
Óculos são uma espécie de retrovisores... do que a gente já foi.
Pelo menos é o que vejo. Ou melhor, tento. E você também tenta.
Já vivi, mas quero escrever um texto sobre ele. E a gente, oi?

Ah, tô numa viagem aleatória aqui, de tentar misturar as coisas.
Uma crônica vadia, num dia vadio, numa noite sem qualquer placar.
Deu empate, dois empates. E a gente empatou, somos feito brisas.
Vou aqui enfileirar umas rimas, uma coisa de quem quer emplacar.

Não é apenas mais uma de amor
Em tempos modernos
Talvez seja toda forma de amor
Como o último romântico

De repente, Califórnia
Ou deixa isso pra lá
Se é seu aniversário
Um pro outro, já

Quando um certo alguém
Como uma onda
Tem a cura como ninguém
Certas coisas a gente sonda

Adivinha o quê, sereia?
Você me faz tão bem, tudo bem?
E a nossa casa, incendeia?
Assim caminha a humanidade, vem?

Estão aí, dezoito títulos de músicas em forma de poesia.
É uma crônica explícita? É. Mas também talvez não seria.
Não vi Lulu no Vímana, com Ritchie e Lobão e companhia.
Só soube. Ele era vocal e guitarra, mas podia ser bateria.

Vi Lulu Santos cabeludo, no Cassino do Chacrinha.
Lembro dele de camiseta e bermuda jeans, arrasando.
Ele cuidou bem da Scarlet Moon, e criou sua cria.
Lulu se assumiu Lulu, sempre corajoso e mitando.

É só um viva pra ti mesmo.
Nessa nossa vida a esmo.
A gente precisa viver.
E acender. E ascender.