- Você faz rimas, que chama de versos. Tenta unir amor com flor, coração e paixão... Coisa ridícula, brega, pobre. - dispara o cronista.
- Inveja, pura inveja. Tenho o poder de síntese, consigo resumir. Não preciso me estender em linhas e linhas, coisa chata! - devolve o poeta.
Silêncio curto. Tempo para o cronista preparar a defesa.
- A escrita tem que ser fluente. Sair por aí declamando frases que ninguém entende é exibicionismo puro.
De primeira, o poeta emenda:
- Meus textos podem virar letra. E com a música, a mais popular das artes, serem imortalizados. E os seus?
- Os meus? Tem certeza que pergunta isso? Posso ver minha escrita até no cinema! - retruca o cronista.
Os argumentos são fortes, mas não convencem ambos. Três, quatro garrafas depois, mínimo nível alcoólico atingido, resolvem estancar as ofensas. Combinam, para continuidade da convivência sadia, que não vão mudar de opinião. Só que conseguem enxergar, já anestesiados, que, ambos, vêem poesia na vida. E, amantes das palavras, se expressam como querem e preferem. Afinal, o ídolo maior dos dois, Charles Bukowski, rabugento que só, conciliava, ele mesmo, os dois estilos. Enfim, brindaram.