segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vamos escrever poesia


Foco no seu olhar,
Sorriso, céu, mar.
Tem música na vitrola,
Teu jeito, você controla.
E a gente se vê.
E a gente tem um porquê.
Estrelas na mão,
Horizonte no chão.
Vamos escrever poesia
Misturar noite e dia.
Sonho com violâo,
Carinho com contramão.
Exército de flores,
Fotografia sem cores.
Falta de juízo, eu sei...
Telefone, papel, desandei.
Misturar noite e dia,
Vamos escrever poesia.

Você

Você é minha revolução predileta;
Simples, articulada, correta.

Você é minha casa, meu guia.
O pouso preferido, noite e dia.

Você é minha fotografia.
Xérox preto e branco e colorida.

Você é a solução.
Devolução, coração.

Você é falante, alegre.
É sorriso, é o que resta.

Você é bebida.
É música, escrita.

Papel pautado, luz, vida.
Mãos, palmas, incisiva.

Você é você e ponto.
Interrogação final, conto.

Você é criança,
Esperteza, perseverança.

Você é o que é.
Agito, paciência e fé.

Vista



Você me olha diferente.
Estranho, indiferente.
Até inconsciente.
Modo indecente
De se fazer decadente
Como uma serpente.
É toque do sol nascente.
Brisa envolvente.
Movimento crescente.
Coração, mente.
Verdade ardente,
Vinho quente.

Só da gente.
Toque inteligente.
Que só se sente
Quando é diferente.
De lado, de frente.
Alegria de amante.

Raio-X

Teu sorriso tem um quê...
De melancolia, talvez.
Ou tristeza,
Não sei.
Tem, tem um quê...
Diferente, blasé.
Uma alegria intensa.
Explosiva e diversa.
Teu sorriso tem um quê.
Um quê de alguém...
Um quê de você.

Qualquer desses dias


Vai ser beira de mar
Então venha me contar.
Praia, mar, calor...
Eu, você... o que for.
Tem areia branca, sei.
Tem você, gostei.
Luau, nós, violão.
Versos, santas, composição.
Convite pra gente, todos.
É o clima, de meninas e garotos.
Voz rouca, faltam cordas.
Sobra perfume, sobram horas.
Amanhã pode ser tarde demais
Pra você saber que não há varandas,
Ou seis minutos.
Teus gestos e sigilos, cala.
Se decolei hoje, fala.
Não vou dizer, me poupei.
Qualquer desses dias...
Vou ser você.

Oito anos

Talvez, pautadamente
Eu consiga escrever o que foi hoje.
Pausadamente, me reflita;
Penso na manhã, aflita.

Enquanto esse garrancho atravessa o papel
Ninguém quer saber da curva
Do acidente, ou da caneta.
Não interessa, é besta.

Desde cedo, desde sempre.
Fato é contramão e velocidade.
Nas primeiras horas,
Na alma sem idade.

Fato é a velocidade no carro,
Espirro e tosse sem cigarro.
O pagamento do almoço;
O livre destroço, o osso.

Te deixar coletivo e só;
Te entregar à escola, te dar nó.
Te deixar presente,
Te deixar ausente.

Se eu quero te encontrar, não pensei;
Se eu quero teu orgulho, tentei.
Se você vai me sorrir, sei;
Se vai rir de si mesmo, garimpei.

São tantas horas de vida e da fase;
São tantas frases e disfarces.
E você vai e vem,
E você quer e tem.

Tua expressão triste me afoga;
Teu riso tímido, me afaga.
Teu abraço sincero,
Eu quero.

Novo lugar


Eu via a rua,
Agora não vejo mais.
Verdade nua e crua.
Pra gente, tanto faz.
Perdi a visão, eu sei.
Foi a luz, o vidro.
A gente se encontrou. Vibrei.
Espaço pequeno, um quadro.
E discutimos, bebemos...
Falamos tantas besteiras.
Vamos criar, escrevemos.
Conversamos até o que queremos!
Não, agora não tem lugar.
Se é ou não no bar,
Não consigo acreditar.
O que quero é conversar.
Ter, querer, tocar.
Rabiscar sem sentido,
E marcar encontro emotivo.
Ver um show, talvez.
Ter o mundo, ter a vez.
Vou ao axé e ao rock.
Vou esvaziar o estoque.
E beber cerveja e vinho.
Divertir junto e sozinho.

Meu coração é tão grande que cabe até você


Eu quero uma festa

Pra não ficar arrependido.

Pra perder o sentido,

E vou lembrar de você

E vou lembrar de mim.

E vai ser assim:

Bom pra nós todos.

Todos festeiros, bagunceiros...

Todos nós juntos, todos um só.

Só eu e você.

E vai ser assim essa festa.

E vou lembrar da gente,

E nossos planos e sonhos.

Nossas vidas, arrependimentos,

Todas as fases, sentimentos.

O que eu não te disse,

E aquilo que não te falei,

Não foi importante pra você.

Vai ser uma festa.

Pra mim, só pra mim.

E pra gente.

Onde vou te chamar

Do que eu quiser.

E a gente vai e volta,

Pro que der e vier...

Meu canto é meu guia

Eu só quero cantar
Se é amar, amar ou amar
Não sei. Vou falar, falar
Eu só quero flertar

Sim, quero namorar
Beijar a música, degustar
Eu só quero o luar
Eu só quero relaxar

Eu só quero apreciar
Quero encantar e te calar
Cruzar as pernas, enfeitiçar
Eu só quero festejar

Eu também quero brincar
Mexer no cabelo, disfarçar
Se for fumar, deixa tragar
Se eu for cantar, deixa levar

Ligação

Teu beijo, marginal
Tua boca, imortal
Saliva doce, canibal.
Instinto seco, imoral.

Indecente, sensacional.
Ardente, animal.
Pedaços de nós no varal.
Só desejo, atemporal.

Sinal da cruz, espiritual.
Sinal de vida, lamaçal.
Olhar vermelho, castiçal.
Despojado, ritual.

Isolamento

Tem som de boteco? Tem.
Vinte vezes cinco é...cem.
Daqui, tudo jóia, tudo bem.
E você, de agitada, fica zen.

Eu, aqui, desse isolamento.
Tô vendo, bebendo, sentindo.
Olhando o todo, o nada.
Vendo o chão e a estrada.

Tem cerveja gelada? Tem.
Cinco vezes vinte é... cem.
Mil anos a mil, meu bem.
Eu e você, entre nós, quem?

Eu aqui, só pensamento.
Tô olhando, golando, divertindo.
Sem você, sem ninguém, basta.
Vendo o céu, a estrela encantada.

Cumprimento, sentimento e outros afins

Oi, amor!
Amor é estardalhaço.
Não existe amor.
É coisa de palhaço.

Oi, amor!
Amor é trabalho.
Não existe amor!
É cebola e alho.

Oi, amor!
Amor é embaraço.
Não existe amor!
É cabaço.

Oi, amor!
Amor é atalho.
Não existe amor.
É bugalho.

Oi, amor!
Amor é plástico e aço.
Não existe amor!
É corpaço.

Oi, amor!
Amor é o caralho!
Não existe amor!
Só baralho!

Codinome


Se eu tivesse você,
Meus minutos seriam dias.
E as horas, infinito.

Se eu tivesse você,
Qualquer rabisco, poesia.
Não valia só o que tá escrito.

Se eu tivesse você,
Cerveja ia rimar com bombom,
Meu escritório era a praia.

Se eu tivesse você,
Não haveria boca sem batom,
Nem peso que caia.

Se eu tivesse você,
Seria amigo do tempo,
Desenharia na areia seu corpo.

Se eu tivesse você,
Nada mexia com o vento,
E cada beijo teria seu gosto.

Se eu tivesse você,
Não teria sinais,
Regras ou dívidas.

Se eu tivesse você,
Cachorros nos quintais,
Mundo sem dúvidas.

Se eu tivesse você,
Todos os homens eram Chico,
E todas as mulheres, Maria.

Se eu tivesse você,
Minha língua, seu grito,
Nosso prazer, a gente cria.

Boteco bom

Se tem música alta, adoro
Se tem boa carne, devoro
Batata frita na bandeja
Refrigerante, suco e cerveja

Tem prosa que fala de amor
E tem conversa de solidão
Você ri até do cantor
E eu em outra estação

Os amigos sempre reclamam do banheiro
E falam sobre o que você queria
A gente come e bebe o dia inteiro
E promete emagrecer no outro dia

Nada parece mais com a gente
Que um bom botequim
Copo gelado, tira-gosto quente
Brinde e papo que não tem fim

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Fada do dente

Tremi. Percebi alguma coisa diferente. Um incômodo. Algo se mexendo pra lá e pra cá. E eu, sem explicação. Parecia turbulência. Mudança repentina. Latejava. Entre dois pólos, ardor. Paciente, esperei o melhor momento para capturar as informações. Sabia, só, que doía. Não era dor profunda, contundente. Era suavemente constante.

Espécie de aviso. Anunciei. Mamãe, atenta e perspicaz, fez questão de interferir a seu modo. Com um jeito suave, macio, conversou comigo. Explicou em poucas palavras seu espanto misturado a contentamento. Era, sim, novidade. Descortinava-se, ali, nova realidade. Boa ou ruim, ainda não sabia.

Me importava mais, sinceramente, o detalhamento do que o fato em si. Pude ouvir um relato sereno, de quem tem voz mansa e sabe usar milimetricamente as frases certas na hora exata. Mãe é assim: binóculos nos olhos, estetoscópio no ouvido e um tato capaz de decifrar a mais complexa filosofia humana.

Pronto, relaxei. E disse o que me afligia tanto: o "pulsar" inédito da minha arcada inferior. Bem na frente. Ela, astuta, decodificou a mensagem. Relaxou e tratou, imediatamente, de providenciar meu alívio. Fração de segundos e já mostrava, toda orgulhosa de mim, o dente extraído sem esforço.

Pensei logo na "fada", de histórias que ela me contou há tempos. Sorriso no rosto, mamãe respondeu pela expressão facial: "Sim, ela virá. Você adivinhou"!  Risonho e deficitário, numericamente falando, me gabei. Além de acertar em cheio a interpretação do acontecido, ainda vou ganhar bênção!

Certos novos conceitos, confesso, ainda me parecem estranhos. Dia seguinte vi notícia sobre a história de José pela tevê. Na seqüência, mesma data, assisti a glória de Maria. Posso até ouvir meu pai detalhar a diferença entre uma alma talhada na retidão e um corpo esculpido ao bisturi.

Ôpa, meu pai surgiu na memória. Sim, tenho família. Afastada e unida, como se esses antônimos do dicionário fossem gêmeos. Parecido com meus dentes agora. Não há distância que nos separe. Queria, mesmo, mostrar pra meu irmão esse dentinho. Tô até vendo o semblante dele, tímido e amigo. Daqui, meu abraço apertado. Sempre!

Vigiando o destino


Vai para o banheiro. Pega a toalha e a calça cinza. Sai sem camisa, como gosta. Pés descalços. Dez e quinze da manhã. O filho só relembra: “não vai esquecer, hein!” Ele sabe que o pedido é feito troféu para ser guardado na estante eternamente. Pôs o coturno sobre a meia grossa de forma a não machucar o calcanhar.

Sabe que tem um compromisso inabalável: chegar ao estádio quatro horas antes do clássico. Embarca no ônibus vinte minutos depois de enfrentar fila de espera. Senta antes da roleta. Imperceptível. Vê pela janela esquerda barracos, asfalto e desgraça. É sujeito pobre e honesto, pai de família e profissional exemplar.

O motorista não ajuda. Um acidente com três mortos (entre eles duas crianças), também não. Chega atrasado ao quartel. Mal ouve as orientações do tenente coronel, que repara e recrimina sua farda mal passada.

- Ser policial no Rio de Janeiro é como manter-se super-herói vinte e quatro horas, até dormindo -, confidencia a si próprio, relembrando as histórias do Super Man que lia na infância sofrida na Baixada Fluminense. Não vislumbra muita coisa além do autógrafo que tem que conseguir. É passaporte para fazer o sono do primogênito sereno.

Na central de policiamento do Maracanã, reúne-se com os demais. Traçam planos. Estratégias para conter as torcidas são minuciosamente detalhadas. Tudo definido, um grupo adentra o gramado. Não era seu caso. Fora designado para a arquibancada. Lado esquerdo das tribunas.

Justo com mais 14, faz parte do cordão de isolamento que impede o confronto de botafoguenses e flamenguistas.

- Ele nem imagina onde estou – pensa, sabendo que o “pimpolho” acompanha tudo pelo inseparável rádio de pilha.

Se vê com um personagem (coadjuvante, entende) de uma bela história. Em casa não é bem assim.

- Papai está lá no campo, pertinho dos craques. E vai falar com o camisa sete alvinegro – enaltece aos colegas de rua que, igualmente, torcem por algum dos dois clubes na final. E olha que todos o admiram e invejam.

Os times pisam o gramado. Ouvem vaias e aplausos. Jogadores sentem, intimamente, a desconfiança de mais de sessenta mil pessoas.

O PM carrega nas costas o peso da única escolha que a vida lhe proporcionou. É o que garante pelo menos oitocentos reais por mês.

Não teve muita chance. Pobre, foi o único entre oito irmãos a concluir o segundo grau e seguir profissão.

Já são quase 40 do segundo tempo. Impossível cumprir.

- Ele deve estar ouvindo o narrador enlouquecer com os dribles desse danado – antevê.

Na direita, o tal domina a bola. Pára. Não faz nada. A multidão emudece. Cinco segundos parecem eternidade.

- Caramba, é um demônio – arrepia-se, esticando o pescoço para trás e observando o único lance que pode durante toda a partida.

Trila o apito. Torcida vibra. Tem noção disso. Vê gente de vermelho e preto indo embora e o povo alvinegro gritando.

- Graças a Deus não precisei usar o cacetete – resigna-se.

Palco vazio, hora de partir. Não sabe, direito, como vai chegar. Tem uma idéia brusca, inusitada. Vai até a cabine e pede ao locutor uma assinatura. O retorno é repeteco do início da tarde. Chega consumido pelo exercício diário do ofício. Encara o moleque.

- Não é o que você esperava – diz, esticando a mão.

O menino olha e chora, copiosamente.

- Sei que não tenho habilidade. Nunca vou ser bom de bola – engole seco.

O militar grisalho não tem tempo de captar a mensagem.

- Tenho uma surpresa: passei no vestibular de Comunicação Social. E fiz porque sempre sonhei narrar grandes jogos – informa.

Agora vai ingressar na concorrida universidade pública com o carimbo do mestre que sempre admirou.

Homenagem ao desiludido


Vou demorar a processar.
Sei que vai esperar
Pra me ouvir gaguejar,
E dizer que não vou conversar.

Você insiste em me ensinar
Que vencer não é ganhar,
Que o importante é chegar,
Que o telefone não vai tocar,
Que o banco não vai cobrar,
Que quem me embala não é o mar.

Você vai dizer sem falar,
Vai sentir sem me chamar,
Vai dormir pra me encantar.
Agora quero me animar!

Sorrir e chorar,
Dirigir e andar,
Correr para te amar.
Beber sem escandalizar,
Escrever e não rimar,
Sentir tua boca e não beijar.

Descobrir o que comentar
Na mesa do bar.
Prometo não me emocionar
E te levar para sambar.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Samba da Mercearia

Se por hora prometi,
Agora tenho que cumprir

Venho batucar aqui
Tudo que não aprendi

Se você quiser comprar
Encontrou o seu lugar

Fique à vontade, pode entrar
É só apreciar, escolher e pagar

Esta mercearia
É tudo que você queria

Tem muita qualidade,
Sorriso farto e amizade.

Tratamento fino,
De brasileiro e argentino

Quando elogia o preço,
Dou a mão e agradeço

Me orgulha seu apreço
Por procurar esse endereço

E quando fala bem
Ainda ganha um vintém

Volte sempre, obrigado
Só não vale levar fiado

Esta mercearia
É tudo que você queria

Tem muita qualidade,
Sorriso farto e amizade.

Tratamento fino,
De brasileiro e argentino (bis)

A pequena história de um amor intenso

A vida contigo é mais leve;
Quando um recua, o outro se atreve.
Passamos da conta e bebemos demais;
Ou vamos conversar, feito casais.

A vida contigo é mais engraçada;
A gente ri de tudo, conta piada.
Chuta lata na rua, de madrugada;
Curte a chuva ou a tarde ensolarada.

A vida contigo é só paixão:
Que se dane o débito do cartão.
Nosso dinheiro a gente inventa;
Colcha de retalhos, a gente emenda.

A vida contigo dá risada,
O carro acelera na estrada.
As crianças percebem o encanto;
Correm soltas, cabelos ao vento.

A vida contigo foge à rotina,
Talvez segredo ou sina.
Tem um mundo paralelo:
Azul versus amarelo.

A vida contigo é florescente;
Praia, rio, nascente...
Colchão macio, cama ardente;
A vida contigo é a vida da gente.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Aquelas considerações iniciais...

Estranho escrever sobre si mesmo. Muito. Passada a esquisitice inicial, tomou forma a ideia de ter um blog com fotos feitas e textos escritos. O espaço, aqui, tem caráter de grande caixa de memórias: um lugar, no caso virtual, onde caiba parte de uma vida. Apenas um registro, sem qualquer intenção de promoção pessoal. Se alguém se interessar por algo, bacana. Mas não é o objetivo. Ao invés de espalhar um monte de coisas por aí, agora está (quase) tudo num canto só, de forma relativamente organizada. Muito melhor assim. Baú destampado e aberto a visitações. Ou não!