domingo, 30 de abril de 2023

Desejo proibido

Acho que sua vida é boa
Então não vou dizer
Que você ecoa
Mesmo sem querer 

Teu sorriso reluz
Teu corpo inflama
Mas a gente reduz
Porque você não chama

É só admiração? É
Fica subentendido
O que a gente quer
Um desejo proibido

Isso é quase um samba
Do alto de seu tamanco
Eu sou quase um bamba
Sem voz e de branco 

Fica só do meu lado
Não precisa nem falar
Eu tô aqui,  calado
Sonhando em te amar

Camim

Eu não sei o que está acontecendo
Talvez a bola branca na caçapa
Ou eu ainda sou você amanhecendo
Ouvindo acordes, pará, pápá

Tem quem ama, tem quem vai amar
É uma noite com gosto de chocolate
Você usa brinco de folhas e de mar
Eu uso uma blusa verde abacate 

Se eu for dizer,  não digo nunca
Se eu for falar,  por você tudo bem
Os teus passos me tatuam a nuca
Mas eu não fui e você não vem

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Cinco sentidos

Eu sou viciado em você.
Te ouço, até desgostosa.
Vejo sua risada. Por quê?
Te respeito, até ansiosa.

Eu sou carinho em você.
Te leio, até silenciosa.
Ouço o seu sono, o que?
Te desejo, até venenosa.

Eu sou o ninho em você.
Te apalpo, maravilhosa.
Sinto perfume de prazer?
Te degusto, luminosa. 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Tinder

Diz aí: qual é seu nome?
Conta: tem quantos anos?
Onde mora, e o que come?
Quais são os seus planos?

Fica ou só quer namorar?
Prefere cerveja ou vinho?
Morar junto ou quer casar?
Sair em grupo ou sozinho?

Está nessa há muito tempo?
Espera ter aqui uma emoção?
Filhos, tem? E seu trampo?
Me encaixo na sua solidão?

terça-feira, 4 de abril de 2023

A fome do universo

Se a saudade for me procurar,
Vou estar onde a história nos deixou.
É bondade minha me amar,
Se não ferir o lastro que ficou. 

Quando a gente não se dedilhou,
Música soprada fez desafinar.
O relatório do tempo desandou,
A chuva estancou até o sol raiar.

Posso ter a fome do universo,
E não querer me alimentar.
Posso ter você aqui bem perto,
E não querer me encontrar.


Livro aberto

De três segredos a gente entende;
Dia pra viver, uma noite de matar.
Pode ser copo ou corpo, depende;
Se o sonho é realidade, a luz tem ar.

Uma placa decalca todo o amor;
Parece sentido, nossa existência.
Encarcerada na madeira, uma flor;
Se é chocolate, gosto de carência. 

Hoje recorto uma palavra quieta;
Te chamo em capela, até choro.
No retrovisor, a nuvem inquieta;
Se a coragem chegar, te devoro.