domingo, 29 de setembro de 2013

Mini perfil

Adoro chuva e sol;
Computador e futebol.
Rio e choro, transbordo;
Pura emoção a bordo.
Tenho amigos e irmãos,
Penso com as mãos.
Vejo e enxergo longe,
Sou disciplina de monge.
O tempo é meu aliado,
Meu mastro calado.

Tenho elegância genética
E formosura estética.
Meu pensamento voa;
Minha presença ressoa.
Vejo sempre o passado
Em fotos, desenhado.
Percebo os detalhes,
Manobro os talheres.
Valorizo a minúcia,
Pratico a astúcia.

Pés descalços


As rugas... sim, as tenho.
E pequenas manchas.
São moinhos de engenho,
Carros-de-boi e lanchas.

As mãos tremem,
Olhos embaçam.
As pernas temem,
Pelos escassam.

Quanto a dentes, esqueça.
A agilidade silenciou.
Querem que desapareça,
Dizem que a fonte secou.

Vestem-se da plástica,
Valorizam o que vêem.
Garanto: é pura ginástica
Aturar os que não lêem.

Não aprecio tolices;
Aprendi um pouco mais.
Dou risada da velhice;
Brinco de viver em paz.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Métrica

Ninguém tem a medida do amor,
Ou a dimensão da tampa da dor.
E se é amor, dor, fervor ou engano,
Só o tempo dirá, esse amigo insano.
E não for nada disso; e se for?
E se for frescor?
Pode ser esperteza;
Pode ser tristeza.

E se ninguém mede, o que é amor?
Qual a identidade; é de frio ou calor?
Pode ser a sujeira embaixo do pano;
Pode ser diagnóstico de desengano.
E se não for nada disso; e se for?
E se só for?
Pode ser até gentileza;
Pode ser até torpeza.

Então ninguém sabe, ao certo, do amor?
Pode ser conclusão, até clamor.
Pode ser montanhoso ou plano.
Pode ser por dias, ou ano a ano.
E se não for nada disso; e se for?
Pode ser espinhoso, pode ter flor.
Pode ser destreza.
Pode ser até singeleza.

domingo, 22 de setembro de 2013

Fica para depois

Domingo, perto das 11. Arranco fora o cobertor, desfaço-me do travesseiro, estico braços e pernas. Acordo corpo e mente. Vejo o baby mais novo, de quase cinco meses, abrindo a boca com risadinhas pré-banho. Dou uns abraços no pimpolho mais velho, perto de 11 anos e com erupções físicas e intelectuais de adolescente. A mulher, ainda numa lingerie sexy, verde água, convidativamente decotada, traça os passos para cuidar do pequeno. Dou duas goladas num açucarado suco de caju, feito na noite anterior e devidamente armazenado em garrafa plástica de um litro e meio para facilitar o sacolejo.

Faço a barba. Uso o novo perfume ganho de presente no dia dos pais. E dado por ela, minha mãe, para quem ligo informando sobre pequenos contratempos bancários. O filhote e a esposa decidem passar o dia fora, com a família dela. Todos vão se divertir de bom modo: ela com a algazarra dos parentes e eu com o silêncio do lar. Mamãe precisa ir, e vai, comigo à agência mais próxima. Utiliza, com meu prestativo auxílio, a recém feita biometria para pagar contas e sacar algum dinheiro necessário às despesas da semana. Devolvida ao aconchego do lar, relaxa.

Eu ainda exerço a tarefa de comprar pacotes de figurinhas do álbum do "Brasileirão", a R$ 0,90 cada, para o primogênito deliciar-se. E como ele gosta de descobrir as cinco imagens de cada saquinho, desprendê-las do adesivo e colar nas páginas dos clubes! Faz disso quase uma aula. Pergunta sobre jogadores, times, selecionados... Descortina um mundo novo. Pela didática do procedimento, não poupo em abastecê-lo. Eu jovenzinho e, confesso, até adulto com cabelos brancos no cavanhaque, aprecio o leva e traz de rostos, escudos e escalações. É simples e alegre como a infância.

Ele almoçou. Devorou arroz e pedaços de peito de frango feitos com primazia pela dona do lar antes de sair. Preferi abrir, sedento, uma long neck. Duas, três, quatro... E sempre a próxima mais gelada que a anterior. Beber em casa tem essa vantagem de poder administrar a temperatura da cerveja. Trabalhei um pouco, revisando e postando um texto na internet acompanhado da foto no devido tamanho. Com os neurônios inspirados, resolvi escrever uma crônica. Mas agora faltam pouco mais de 10 minutos para começar o jogo do Botafogo. Fica para depois. Obrigado.   

sábado, 21 de setembro de 2013

Solo

Não, não vou te contar minhas alegrias;
Nem teimas, brigas ou tristezas.
Não, me recuso a te contar um livro
Que sobrou da tradução do que sinto.

Não vou falar sobre lágrimas e sorrisos;
Sobre gostos, identidades ou destinos.
Não, definitivamente, não falarei;
Com o silêncio é que direi.

Não vou cortar os pulsos, também;
Patético, seria só e apenas refém.
Não, não vou cortar nem letra minha;
Tampouco palavra, frase ou rima.

Não, não vou ouvir música triste;
Seria como dizer que você ainda permite.
Não, não vou escrever e te homenagear;
Vou, devo e posso só me decifrar.

Não, não sei o que vai ficar depois;
Se vai ter depois, depois do depois.
Não, não defino começo, meio e fim;
Guardo e aguardo, só, pedaços de mim.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Eu preciso chorar

Eu, eu preciso chorar
Para ganhar.

Eu, eu preciso chorar.
Para acalentar.

Eu, eu preciso chorar.
Para respirar.

Eu, eu preciso chorar.
Para voar.

Eu, eu preciso chorar.
Para vibrar.

Eu, eu preciso chorar.
Para amar.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Rio

Eu também lamento
As chances perdidas.
E até o que não tento;
As palavras cedidas.

Eu também canto
As frases queridas.
E até encanto,
Enquanto fecho feridas.

Eu também manto;
Visto peles cansadas.
E até sentimento,
Em frouxas risadas.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A mudança



Vou comprar uma flor
Para pedir desculpas a alguém,
E depois chamar de meu amor.

É o valor do vintém,
Quando a pétala vira arma
Fortalecendo minha personalidade.

A doação que te engana,
Trai sua vaidade
E desculpa o que eu não queria.

Apenas um escopo;
A insegurança de um dia
Pensar em perder o seu corpo.