quarta-feira, 10 de maio de 2023

Sassaricando

A porta, já aberta, assistiu Moisés entrar.

Ele foi partido ao meio quando mirou a TV que fica perto da porta. Na tela, uma imagem em preto-e-branco de Rita Lee.

- Ela morreu? Vou chorar.

Moisés foi dividido ao meio por um mar de emoções.

Não vi, mas deduzo que lacrimejou.

Elis Regina adentrou pela mesma porta que Moisés, a essa altura já resiliente.

A xará da cantora que tirou a cantora da cadeia também se espantou.

- Rita Lee morreu?

A concordância veio no movimento para baixo da cabeça de dois ou três colegas de trabalho. Um movimento encadeado.

Lua, a personificação capilar Lee, não tinha o mesmo brilho nas madeixas rosa-choque.

Joice, outra homônima de cantora, estava de preto. Coincidência ou não, não dá pra cravar.

Ofegante, Thamires, nossa líder sereníssima, e, curiosamente, também de preto, teve o ar roubado por uma sinusite insistente. Um bafejo de quem não é ovelha negra. Muito pelo contrário. Na sua ausência física, é uníssono o coro: "agora só falta você".

A tarde chegou tarde. Com informações sobre vacina, carros acelerados, questionamentos educacionais, preparação de defensores civis e quetais.

Uma miscelânea. É nosso dia-a-dia pouco convencional aos normais. Uma espécie de lança-perfume atirado ao vento e mutante.

A gente trabalhou. E eu ouvi e vi Rita Lee no YouTube. Em último volume. Só silenciado quando ouvi, do meu lado, a polida e elegante colega Juliana cantarolando Rita Lee.

Bwana, Bwana, não sei cozinhar. E também não vejo uma mulher-robô. Foi uma cena tuti-fruti. Uma liberdade de expressão que só tem quem é Lee na excelência.

Parei pra tomar uma cerveja por Rita. Já estou, em plena terça, na quarta. Sonhando que ela tenha sete. Sete vidas. E, em todas as reencarnações, mulher!

Nenhum comentário:

Postar um comentário