segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Recosto

Acordei com o travesseiro encharcado de suor. Por volta de 7 horas. Tomei uma chuveirada, chamei o guri mais velho e partimos. Uma rápida parada na escola do moleque e já estava eu a caminho do trabalho. Serviço dia de segunda-feira é travado, é como se o freio de mão estivesse puxado o tempo todo. Se eu fosse deputado federal ou senador, não ia mexer com terceirizações, biografias, etc... Meu projeto seria extinguir toda e qualquer atividade profissional às segundas-feiras. Ninguém ia fazer nada. Aliás, meu sonho é que as segundas-feiras não existissem.

Depois de uma manhã à meia boca, chega o almoço no restaurante. Pedi suco de laranja com gelo e sem açúcar. Veio doce e na temperatura ambiente. Garçonete que não anota o pedido dá nisso. Não confio em atendente que confia na memória. Já que o nível de glicose no sangue estava elevado, completei com um chuvisco. Se arrependimento matasse... Estava horrível. Um dos piores que já provei. Rápidas palavras com uma colega de trabalho, uma conversinha acolá com o chefe... Pus a pesadíssima mochila nas costas e saí fora. Carrego o mundo nas costas. E parece literal.

Novamente dirijo, agora em direção a uma loja de informática onde deixei o carregador do netbook para ser soldado. Uma moça loirinha, simpática, me informa que, 10 dias depois, o serviço ainda não foi feito. Putz! Apanho o filho na casa da mãe e o entrego às boas mãos da orientadora, acompanhado do lanche da semana. Dessa vez ele quis biscoitinhos apresuntados e Ades Maçã de 200 ml. Ligo para uma conhecida, ex-professora do pimpolho, que teria tido filho no último dia 22. Ela informa que o parto foi transferido para amanhã, dia 29, logo meu aniversário. Fiquei feliz pela coincidência.

Para me presentear, estacionei no shopping mais badalado da cidade. Comprei um Reebok número 41, um a mais que o meu habitual 40. Preto, bonito, imponente e, para meu avantajado peso, o mais importante: muitíssimo confortável com seu sistema de amortecimento do calcanhar até a unha do dedão do pé. Nas portas automáticas de vidro, já na saída, dei de cara com uma antiga namorada, de uma relação duradoura. Ela estava bonita, elegante, aparelho nos dentes. Fomos cordiais e rápidos, como tinha de ser. Até entrar novamente no carro, lembrei com carinho do nosso tempo juntos.

Próxima parada: a casa da mãe, a patrocinadora do tênis. Ela observou, apalpou e elogiou a escolha. Batemos longo papo, como há muito não fazíamos. Detalhamos informações, tecemos comentários. Não rimos. E não choramos. Faltou pouco. Saí com fome, rumo a uma lanchonete que frequento. Pedi um Superalaskão (é assim mesmo que está no cardápio). E degustei três latões de Antártica. Enquanto isso, a TV, ligada na Globo, passava "Amor à vida". Uma novela chatíssima, com discussões entre casais gays, uma jovem interesseira se fingindo amorosa com o velho galã, e a mulher dele sendo cortejada pelo médico bonitão.

O garçom, imagem e semelhança do Andrezinho, vocalista do grupo "Molejo", requebrou pra lá, ciscou pra cá, e trouxe a conta. Não me perguntem por que eu visualizei um sósia de um líder de conjunto de pagode decadente em pleno estabelecimento comercial de um bairro chamado "Capão"... Satisfeito gastronomicamente, e com a ideia de escrever a crônica do dia, chego a casa. Saio do refrescante banho, deito, ponho o computador no colo, dano a digitar minhas recentes memórias... Antes, troquei o forro da cama. E a fronha. Só que ele, o travesseiro, estava lá. Incólume. Esperando por outra noite tórrida.