Clóvis vestia a oito.
E desfilava.
A origem germânica do nome contrastava com a pele negra.
Mas ele superava qualquer preconceito.
E bailava.
Sim, Clóvis era um bailarino da bola.
Anônimo.
Invisível.
Até que...
Na noite de 19 de março, do longínquo 1986, se fez brilhar.
Naquele dia os holofotes eram para o badalado Fluminense.
Eram!
Porque Clóvis mudou o rumo da luz.
A chamou pra si de forma leve, carinhosa.
Como os que muito amam.
E essa relação íntima ele teve com a bola.
Ela era cheia de tricolores e tricolices.
Tricolices, termo diferente, é só pra rimar.
Rimar com tolices de um grande time, super campeão, emperrado.
Amordaçado.
Empacado por Clóvis, o gênio de uma noite mágica.
Ele ditou o ritmo.
Cadenciou o samba.
E sambou, bailarino, a nota que inventou.
Deu dó num Fluminense de ré.
Foi mi, foi fá, foi o sol reluzente de um lá dia mágico em si.
Regeu uma orquestra afinada por Sena.
Sim, Sena, não o piloto, mas o guia dos gols.
Fez o primeiro, já veterano.
Antes, jovenzinho nascido na terra do conhaque, deixou São João da Barra pra trajar uniformes do Palmeiras e do Bahia.
Jogou até no Atlético de Madrid.
Mas domou o touro, mesmo, foi junto com Clóvis, autor de um golaço de cobertura.
O ponta Leandro fez os outros dois do inacreditável 4x0.
Naquele 19 de março, em que uma improvável zebra deixou o maioral do Rio de joelhos.
O Globo Esporte registrou. E relembrou (olha o vídeo aí, no final do texto).
De lá pra cá a luz apagou.
O azul desbotou.
De Clóvis não se teve mais notícia.
Leandro sumiu.
Sena vive no interior.
E o Goytacaz sucumbiu.
Chegou à quarta divisão estadual.
Quase parou.
Quase, porque a torcida, firme e guerreira, destituiu a diretoria.
E assumiu as rédeas de um clube que já deixou o atual campeão da Libertadores de quatro.
O "Azul da Rua do Gás" está longe de repetir tal façanha.
Milagre, agora, é sobreviver.
Mas que ninguém duvide de um clube que, um dia, deu show com Clóvis, Sena e Leandro.
Porque foi bonito.
Iluminado.
Poético, até.
E a gente não duvida que o futebol é poesia.
Aposte nisso.
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